sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Para exercitar o ritual e a fé resolvi chamar a atenção de Deus para algumas coisas, e para pedir, mesmo em vão, porque pedir não só é bom, mas às vezes é o que se pode fazer quando tudo vai mal. 'Queria pedir a Deus um olho bom sobre o planeta. Um olho quente sobre o mendigo gelado; um olho generoso para a noiva radiosa mais acima, as loiras oxigenadas, falsíssimas. O olho piedoso para esses casais que comem pizza com fanta, e mal se olham enquanto falam. Derrama teu olho amável sobre as criancinhas demônias criadas em edifícios – nesses lugares onde um ser humano vai-se tornando aos poucos tão humano quanto uma mesa. Passeia teu olhar fatigado pela cidade suja. Coloca um spot brilhante no caminho das garotas que para pagar o aluguel dão duro como garçonetes. Olha pela multidão, pelo motorista que confessa não ter mais esperança. Cuida do pintor que queria pintar, mas gasta seu talento pelas agências publicitárias. Olha por todos aqueles que queriam ser outra coisa qualquer a que não são, e viver outra vida que não a que vivem. Sobre todos que de alguma forma não deram certo (porque, nesse esquema, é sujo dar certo), sobre todos que continuam tentando por razão nenhuma – sobre esses que sobrevivem a cada dia ao naufrágio de uma por uma das ilusões. Para nós, que nos esforçamos tanto e sangramos todo dia sem desistir, envia teu Sol mais luminosos. Sorri, e abençoa essa nossa amorosa miséria atarantada'...Porque fé quando não se tem, se inventa!

Caio F.

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